Artista do Mês: Mu540
Descubra Mu540, artista de São Paulo que funde o funk brasileiro, o design sonoro e a emoção para moldar o futuro da música eletrônica global – uma voz visionária da periferia impulsionando a cultura.
Victor Flosi

Por trás do enigmático e técnico nome, Mu540 é um dos artistas sonoros mais ousados e viscerais do Brasil. Nascido em Praia Grande, São Paulo, e criado entre paredões de som, bares de samba e os ritmos brutos do funk, Mu540 não está apenas misturando gêneros – está ressignificando esses sons. Seu trabalho foge da categorização, enraizado em uma urgência emocional e em uma filosofia de design sonoro, traçando novas conexões ousadas entre o baile funk e a música eletrônica.
“Meu som é ruído dinâmico – inclassificável e em constante transformação”, diz ele. Até seu nome artístico reflete essa abordagem híbrida: Mu540 faz referência a um ângulo trigonométrico – 360° de percepção somados a 180° de visão criativa. “É como se eu estivesse um pouco à frente da curva”, brinca.
A formação de Mu540 foi mergulhada em diversidade sonora: os flashbacks pop da mãe, o samba dos bares locais e, acima de tudo, a cultura dos paredões de som nas favelas brasileiras. Mas, surpreendentemente, seu primeiro despertar musical veio do hardstyle europeu – artistas como Headhunterz, D-Block & S-te-Fan e Wildstylez deixaram uma marca profunda.
Sem formação formal, ele se tornou um engenheiro autodidata, absorvendo tutoriais do YouTube (muitos de produtores chilenos) e livros como The Art of Mixing. O funk permaneceu como base, mas ele o abordava com a precisão de um designer de som. O resultado é um artista que transita entre o emocional e o técnico com uma fluidez rara.

Para Mu540, misturar funk e música eletrônica não é uma moda – é uma linhagem. “Eu só estou dando continuidade à pesquisa que os DJs da Baixada Santista já faziam anos atrás. Teve até um movimento de Psy Funk a 128 BPM”, relembra.
Para ele, a beleza da fusão está em ver as culturas marginalizadas do Brasil ocupando espaços historicamente exclusivos da elite. “É como encontrar seu vizinho quando você está longe de casa – traz um sentimento de pertencimento.”
Ele também fala abertamente sobre o apagamento das raízes eletrônicas do funk, citando Kraftwerk, Afrika Bambaataa e o “Volt Mix” do DJ Battery Brain como fundamentais no seu DNA. “As pessoas não conectam o passado com o presente – e isso torna o futuro incerto.”
Por trás de todas essas fusões, o artista mostra que a música não tem limites – e que, com a curadoria certa, é possível criar algo novo e único.
Se apresentar na Batekoo (coletivo LGBTQ+ underground de São Paulo) foi um momento decisivo. “Foi como uma faculdade pra mim. Me acolheram como família.” Desde então, Mu540 passou por outros eventos como Mamba Negra, Helipa, e comunidade, com o baile funk eventualmente alcançando muitos palcos europeus. “Conheci as periferias do mundo – agora volto com novas referências”. Suas experiências ao redor do globo ensinaram mais do que ele poderia imaginar. Isso é crucial para o desenvolvimento do funk brasileiro e para todas as misturas de gêneros.
Músicas como “Fantástico Mundo da Oakley” reimaginam a house music sob a lente da favela, enquanto “Pompoarismo”, com Bia Soull, mistura Jersey Club, poesia falada e a energia do voguing em um lançamento explosivo. Exemplos claros de como Mu540 está moldando a cena no Brasil.



A conexão de Mu540 com Mochakk começou com um debate online: funk é música eletrônica? Ambos concordaram que sim – e, a partir daí, surgiu uma verdadeira amizade. “Mas nunca finalizamos uma faixa juntos – a gente conversa demais. Sobre tudo, menos música”, ele ri. Ainda assim, o laço é profundo. “Mochakk me ensinou sobre o mercado de house – numa conversa durante uma afterparty, ele abriu o coração e me mostrou como transmitir sentimento através do som.” A partir disso, Mu540 passou a enxergar a cena com outros olhos, desenvolvendo ainda mais seu estilo.
Sua rede de colaborações é ampla e eclética, incluindo nomes como Boys Noize, Adami e produtores que transitam pelo funk, rap, MPB e até tecnobrega – uma malha de influências que vai da Bahia até a Holanda.
A música sempre começa na sua cabeça – o DAW (FL Studio, é claro) vem depois. “Nunca tive bloqueio criativo. Só começo quando a ideia já está totalmente formada na minha mente”. As ferramentas e plugins favoritos incluem o Serum e o Ozone 11, que ele domina com maestria técnica e uma devoção nerd.
Mas, para Mu540, os equipamentos são secundários à emoção. “Quero que as pessoas reflitam sobre a vida delas. Não é sobre mim. É sobre o que elas sentem na pista”. Intensidade e entrega são palavras que definem o som desse DJ e produtor, que transforma as emoções mais profundas em batidas.
Mu540 enxerga o Brasil não como um mercado — mas como a fonte de energia de uma nova era sonora. “Enquanto outros países têm petróleo, a gente é a bobina de Tesla. A energia renovável da música”. Ele acredita que o funk é ao mesmo tempo influenciado e influenciador de gêneros como o hard techno, ensinando produtores a usarem suas ferramentas com autenticidade e criatividade.
Seu papel é amplificar essa troca: exportar o som periférico do Brasil para o mundo e trazer de volta a inovação global para as comunidades onde tudo começou.
“Se pequenos gestos de pessoas comuns me ajudaram a continuar, talvez tudo o que eu esteja fazendo vá ajudar alguém também. É por isso que continuo aparecendo e produzindo.”

Mu540 é mais do que um beatmaker — ele é DJ com D maiúsculo. Seus sets são narrativas emocionais, misturando sons intensos inspirados em Laidback Luke, Speed Garage, UK Garage e até edits de Whitney Houston, em jornadas que desafiam e confortam ao mesmo tempo. “Gosto de tocar o que eu sinto falta. Construir nostalgia e, no drop, trazer algo novo. A pista é como se alguém me passasse a bola — e eu tenho que fazer o ponto com o drop.”
Inspirado por nomes como Fatboy Slim, Jeff Mills, Aphex Twin e até Kobe Bryant, Mu540 treina fisicamente para aprimorar sua presença e sensibilidade no palco. Música, para ele, não é trabalho — é um compromisso de vida.
“Abri mão da minha vida pra viver a música. Como disse o Mano Brown, música é ingrata — mas quando você tá dentro dela, esquece todo o resto. E não consegue desistir.”
Olhando pra frente em 2025 e no futuro, Mu540 promete entregar “o veneno da música eletrônica” — unindo engenharia de som com produções minimalistas e eficazes. “O Brasil é a nova energia renovável da música eletrônica. Quero ser um comunicador cultural — um DJ com legado.”
A mensagem é clara: Mu540 representa o futuro da música brasileira — unindo vivência bruta com inovação sonora.
“Pra mim, o funk é ciência. E eu quero ser lembrado como alguém que avançou essa ciência.”
Fique de olho — Mu540 está apenas começando. E a cada drop, ele leva a cultura brasileira mais longe no mercado global.


























