Clementaum: Salto Alto, Leque na Mão e Batidas Pesadas do Brasil
Do underground de São Paulo para os maiores palcos da Europa, Clementaum está conquistando a cena club global com ritmos acelerados e uma atitude sem medo de ser quem é.
Amanda Cavalcanti

Com a bolsa no ombro, o leque na mão e o salto nos pés, ela comanda a pista. Sempre mexendo nas luzes e abanando o leque em sincronia com os drops, mistura tribal house com baile funk, um pouco de techno e o que mais vier à cabeça. Essa é a visão da DJ e produtora brasileira Clementaum, que nos últimos anos ganhou destaque no Brasil com seus sets performáticos e tracks energéticas. Agora, ela planeja conquistar o mundo.
Natural do Paraná, no sul do Brasil, mas profundamente ligada à cena eletrônica underground de São Paulo, onde mora desde 2022, Clementaum tem levado seu som cada vez mais longe.
Só no último ano, ela se apresentou no palco do Boiler Room no Primavera Sound Barcelona e no Sónar Lisboa, além de ter feito uma turnê pela Europa em abril. Em julho, deve anunciar novas datas internacionais. Nos últimos meses, colaborou com nomes como a rapper argentina Ms. Nina e anunciou um single com Nathy Peluso.
"É incrível poder levar minha cultura comigo, tocar minhas próprias músicas fora do país", diz Clementaum (nome real Gabriela Clemente) em entrevista por vídeo no fim de maio. "Insisti muito pra chegar até aqui."

Clementaum, que já trabalhou como hostess em clubs, começou a discotecar em 2017 e rapidamente se tornou conhecida na cena de Curitiba, capital do Paraná. Como queria se sustentar como DJ, tocava em todos os tipos de festas e casas. "Eu amava tocar moombahton, baile funk ou remix de pop com batida de vogue", conta. "Mas também já toquei R&B, já toquei reggaeton... E aí, quando tive a chance de tocar numa festa mais voltada à club music, foi quando comecei a tocar o que realmente fazia sentido pra mim."
Clementaum é atraída por ritmos percussivos, especialmente os ligados à música dançante latino-americana e africana. Seus sets de tribal house e baile funk frequentemente incluem guaracha, kuduro e jersey club. "Eu gosto de ouvir o som da percussão, dos hi-hats. Faço uma mistura doida de tudo", diz. "É impressionante a quantidade de gêneros que temos só no Brasil e na América Latina. Somos tão criativos. É inspirador."
Essa inspiração também aparece nas suas produções. Ela começou a fazer música por volta de 2018, quando seu laptop mal aguentava rodar o software de produção. O hobby virou paixão durante a pandemia, e desde então vem lançando faixas com artistas de pop e baile funk. Sua primeira música lançada foi “Pirigótika”, uma espécie de hyperpop com pitadas de rock, feita para a cantora Bibi Babydoll, em 2021.
Desde então, já trabalhou com artistas como Karol Conká, Mia Badgyal, e produtores como Carlos do Complexo e LAZA. Também se envolveu profundamente com a cena eletrônica underground de São Paulo, colaborando com nomes como DJ Caio Prince, Irmãs de Pau, Teto Preto, e tocando em festas underground grandes como Mamba Negra e Chernobyl.
"Em Curitiba, eu sentia que já tinha feito tudo o que dava. Eu fiz minhas próprias festas lá, mas perdi muito dinheiro nesse processo. Aliás, com o que perdi fazendo festa em Curitiba, dava pra ter colocado silicone", brinca. "São Paulo é mais aberta a novos sons. A gente não é mainstream; a gente pode ousar."

Clementaum conta que a cena underground paulistana também influenciou diretamente sua performance nos palcos. "Na pandemia, comecei a gravar meus sets e fiquei chocada com o quão séria eu era tocando. Morria de medo de errar. E, claro, é importante dominar a técnica, mas quando o DJ performa, isso contagia e te anima. Às vezes o set nem é tão bom, mas você curte pela vibe do DJ."
Foi aí que ela decidiu deixar seus sets tão divertidos quanto o seu som: brincando com as luzes, abanando o leque e dançando com suas próprias batidas. A bolsinha e os saltos também viraram marca registrada – quase por acaso. "Fui assaltada uma vez em São Paulo enquanto tocava e decidi que nunca mais ia deixar minha bolsa sozinha! Então agora eu sempre carrego comigo.", conta.
As performances rapidamente conquistaram novos fãs e viraram icônicas — ou "iquinics", como ela mesma diria. Clementaum tem um talento especial para criar palavras e expressões que viram bordões em suas redes sociais. É famosa por dizer “AVISA!” e por transformar o nome das cidades onde vai tocar em palavrões estilizados. "Sempre fui um meme ambulante", ri. "Além disso, sempre acontece alguma coisa doida nos meus sets. Quando toquei na Mamba Negra, tinha uma pessoa com uma boneca reborn! Esses momentos viralizam e as pessoas me reconhecem por eles."
Com novas collabs prestes a serem lançadas e mais datas pela Europa se aproximando, Clementaum reafirma seu compromisso com o underground: "Eu não sou uma DJ de estilo X ou Y. Sou uma DJ da música eletrônica underground, da música eletrônica latina", conclui. "Eu quero que as pessoas ouçam minhas faixas e pensem: esse é o som da Clementaum."



























